Cinco tendências globais de sustentabilidade
A pauta ESG (Environmental, Social and Governance) passou a permear os debates sobre o futuro dos negócios no Brasil e no mundo. Para a indústria, o tema é fundamental para a inovação e a reinvenção do setor neste mundo pós-pandemia.
O Observatório FIESC analisou a publicação “Global Sustainability Trends”, da Euromonitor Internacional, consultoria que realiza estudos mundiais sobre o assunto, e selecionou alguns temas-chave para os próximos anos. O levantamento aponta tendências e ajuda empresas e organizações a identificar oportunidades relacionadas às mudanças climáticas em meio às pressões regulatórias. Além disso, dita os próximos passos neste mercado formado por consumidores e investidores cada vez mais exigentes com aspectos ESG.
O estudo avaliou áreas como Alimentação, Agricultura, Água, Energia, Floresta e Biodiversidade, Volatilidade do preço das commodities, Mudança climática e Poluição.
Confira a seguir as cinco principais tendências identificadas pelo estudo e a expectativa de ações e desdobramentos no longo prazo.
Ação climática
Com o agravamento dos relatos sobre mudanças ambientais, a ONU alertou o mundo sobre um estado de emergência climática. Ao todo 33 países, que somam uma população de 820 milhões de pessoas, fizeram declarações neste sentido em dezembro de 2020. EUA, China e a União Europeia se comprometeram a alcançar a neutralidade de carbono.
Companhias passaram a adotar soluções para descarbonizar a economia – a estimativa, de acordo com a Euromonitor, é que 35% dos consumidores estão dispostos a diminuir suas emissões de carbono.
O consumo médio de energia renovável está aumentando em todo o mundo, com a China na liderança dessa transformação. A expectativa é de que essa tendência tenha continuidade no longo prazo, uma vez que a ação para reduzir as emissões de carbono se mantém como uma prioridade para empresas, consumidores, investidores e governos.
Economia circular
A escassez de recursos, a volatilidade dos preços e a preocupação com danos ao meio ambiente incentivam uma economia circular. A Europa, especialmente os países nórdicos, estão na vanguarda desta transição.
Na economia linear, o processo produtivo é intensivo em recursos, exige grandes quantidades de matérias-primas virgens e produz resíduos desnecessários ou evitáveis.
A economia global ainda está longe de ser circular. Cerca de 93,3 bilhões de toneladas de materiais foram injetados no mundo em 2020, mas apenas 8,6% foram reciclados e, de acordo com o relatório Circularity Gap, essa proporção diminuiu 0,5 ponto percentual entre 2019 e 2020.
Para que a economia global se torne verdadeiramente circular, todos os países e todas as partes interessadas precisam se envolver, desde governos, fabricantes e varejistas até consumidores e recicladores.
Volatilidade do preço das commodities
A pandemia da Covid-19 atingiu tanto a demanda quanto a oferta de commodities. O petróleo, por exemplo, bateu mínimas recordes (queda de 71,1% entre janeiro e abril de 2020). Já o ouro, teve altas recordes (aumento de 26,1% entre janeiro e agosto de 2020). Enquanto os preços do petróleo caíram devido a uma redução na demanda causada pela pandemia, o ouro se beneficiou da incerteza global e das baixas taxas de juros reais.
Os preços das commodities de energia caíram 60,5% em abril de 2020 em relação a janeiro de 2020 - e ainda caíram 31,1% em outubro de 2020. Já os preços de alimentos e commodities agrícolas caíram 7,2% e 8,8%, respectivamente, entre janeiro e abril de 2020, mas se recuperaram em outubro.
A flutuação nos preços das commodities tem implicações comerciais importantes, pois pode afetar as margens de lucro. Compreender as perspectivas para essas commodities se tornará um imperativo de negócios para ajudar a gerenciar os riscos de preços e fazer concessões orçamentárias.
O mundo precisa fazer mais com menos
O crescimento populacional e a expansão da classe média estão pressionando significativamente os recursos naturais, aumentando o esgotamento das fontes em um ritmo mais rápido do que o planeta é capaz de se regenerar.
Em 2020, o mundo consumiu 93,3 trilhões de toneladas de materiais domésticos, com uma produtividade de US$ 0,9 por tonelada. Isso significa que cada tonelada de recursos naturais foi transformada em US$ 0,9 de produção.
No entanto, a pandemia teve um impacto significativo na produtividade. Enquanto o consumo doméstico de materiais aumentou 1,9% em 2020 em relação ao ano anterior, o PIB real caiu 3,3%, resultando em uma redução da produtividade de 5,4%.
Melhorar a eficiência no uso das matérias-primas (fazer mais com menos) será um fator chave para a sobrevivência dos negócios nos próximos anos. A eco inovação e a colaboração intersetorial serão necessárias para alcançar um uso mais sustentável dos recursos em um mundo que está se tornando cada vez mais limitado em recursos.
Poluição
As emissões globais de CO2 caíram 5% entre 2019 e 2020, o que equivale a todas as emissões de CO2 de combustíveis fósseis na América Latina.
No mesmo período, o PIB real teve uma queda mais acentuada do que a observada no consumo de energia, indicando uma diminuição na eficiência energética. Essa relação é fundamental para alcançar o Acordo de Paris e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Uma das metas é dobrar a taxa global de melhoria da eficiência energética até 2030.
Com negócios prometendo descarbonizar cadeias de suprimentos e operações, há enormes oportunidades de inovação em produtos limpos e tecnologias verdes, como veículos elétricos, transporte mais limpo, captura de carbono ou até produtos feitos a partir da poluição do ar.
ESG está em crescimento por conta de políticas governamentais e regulação na Europa, Ásia e América do Norte. Relatórios obrigatórios de ESG irão aumentar a transparência e a responsabilidade das empresas, impactando decisões sobre investimentos, consumo e atração de talentos. Por isso, o assunto se torna relevante na agenda da indústria e demais organizações.