Guerra na Ucrânia aumenta risco de inflação e desafia a economia global
A economia global, que ensaiava uma recuperação após a pandemia da Covid-19, agora precisa enfrentar as incertezas da guerra. O ataque da Rússia à Ucrânia parece distante de um desfecho. Embora ainda seja difícil especular a duração e o resultado do conflito, o Observatório FIESC, com base em relatório de especialistas da empresa de consultoria internacional Euromonitor, projeta impactos nos preços globais de energia e commodities em função do papel da Rússia como um dos principais produtores de petróleo e gás do mundo. Como o planeta enfrenta um momento de pressões inflacionárias já acentuadas, esse incremento de custos poderá ter efeitos negativos nas taxas de crescimento real do PIB global.
A Rússia é uma potência global de commodities. As exportações de combustíveis minerais representaram 8,3% do total global em 2021, o que torna o país um dos maiores exportadores de petróleo e gás do mundo. A nação de Dostoiévski também é um importante fornecedor de vários metais, incluindo cobre, níquel, paládio e alumínio. Além disso, a Rússia e a Ucrânia são grandes exportadores de trigo: os dois países forneceram 14,7% da produção mundial em 2021.
Mesmo que o comércio de petróleo e gás continue, cortes punitivos no fornecimento da Rússia em resposta a sanções de países do Ocidente, bem como a retenção preventiva por comerciantes de petróleo e gás, provavelmente levarão a aumentos significativos de preços de energia, com estimativa de 30% a 50% em 2022-2023. O preço do trigo pode dobrar se as exportações da Rússia e da Ucrânia forem completamente cortadas. A Europa é especialmente vulnerável devido à dependência da Rússia em 40% do consumo de gás, de acordo com a Agência Internacional de Energia, com capacidade limitada de substituir o gás por outras fontes de importação no curto prazo.
As avaliações iniciais preveem que:
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A economia global e os principais países do mundo provavelmente verão suas taxas anuais de crescimento real do PIB em 2022-2023 diminuindo em 0,2-1,5 pontos percentuais em comparação com previsões pré-invasão.
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As economias com maior exposição ao comércio com a Rússia, incluindo as da Zona do Euro e da China, são mais vulneráveis aos impactos da guerra.
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Com base na situação de hoje, a previsão da Euromonitor é que a inflação global será de 2,0-3,0 pontos percentuais mais alta anualmente em 2022-2023 em comparação com a previsão antes da invasão, feita em janeiro de 2022.
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O impacto da inflação provavelmente será sentido com maior intensidade pelas economias da Zona do Euro e por alguns mercados emergentes, como o Brasil.
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O Brasil, grande importador de trigo, principalmente da Argentina, não deverá sofrer com problemas de desabastecimento, porém os preços da farinha e outros derivados deverão subir para o consumidor.
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Outro desdobramento é com relação ao fornecimento de fertilizantes para a Agropecuária brasileira. A Rússia foi o maior fornecedor de fertilizantes para o Brasil em 2021, com mais de 9 milhões de toneladas enviadas, totalizando mais de US$ 3,5 bilhões em mercadorias, o que equivaleu a 23,3% do total importado do produto pelo Brasil no ano passado. Outro país envolvido no conflito é a Belarus, que respondeu em 2021 por 3,4% da importação de fertilizantes em 2021.
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Santa Catarina é responsável pelo consumo de 2,7% do total de fertilizantes importados da Rússia pelo Brasil.
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Uma das alternativas é diversificar as opções de fornecedores de fertilizantes para o mercado brasileiro. O Canadá já ocupa a quarta posição nas importações feitas pelo Brasil, com 9,8% das transações realizadas em 2021. O governo federal brasileiro negociou recentemente com as principais empresas canadenses do setor a ampliação dos embarques para o país, com sinalização positiva.
Fonte: Passport Euromonitor - War in Ukraine Heightens Inflation Risks and Challenges the GlobalEconomy, 2022