Contra Coronavírus
Dando continuidade à análise do impacto nos empregos de Santa Catarina, o Observatório da FIESC realizou um levantamento do número de empregos gerais formais por setores e porte, selecionados com base no ranking da quantidade de empregos por setor na economia de Santa Catarina e/ou que deverão permanecer paralisados de acordo com as medidas emergenciais decretadas pelo governo do estado. O objetivo é demonstrar de alguma forma a magnitude de empregos do estado, de modo que se não forem organizadas ações eficazes aplicadas a economia, haverá impacto negativos nos empregos.
De acordo com dados mais recentes divulgados pela Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), Santa Catarina detinha um total de 2,35 milhões de empregados formais em 2018, frente a 46,63 milhões no país, o que representa aproximadamente 5% do total. No Brasil, os empregados formais estão distribuídos em 3% na agropecuária, 20% na indústria e 77% em serviços, enquanto em Santa Catarina, 2% estão na agropecuária, 34% na indústria e 64% em serviços. Vale ressaltar que os dados da RAIS não são representativos para o setor agropecuário, devido a característica de informalidade do trabalhador do setor.
A partir desses dados é possível verificar o peso no mercado de trabalho do setor de serviços - setor com maior número de empresas paradas até o momento devido às regras de isolamento social, instituídas por decreto do governo do estado. Porém, assim como mencionado na primeira publicação sobre o impacto no mercado de trabalho, é importante ressaltar que, de acordo com a cadeia produtiva, os setores estão relacionados diretamente, de modo que o desempenho de um serviço influencia nos demais.
Outro ponto de destaque é o mercado de trabalho de Santa Catarina na indústria de transformação. Em 2019 foram abertas 18.256 vagas com carteira assinada, frente ao total de 18.341 empregos no Brasil. O número elevado de empregados na indústria de transformação se deve em parte, ao perfil de algumas indústrias serem intensivas em mão de obra, como é o caso da Indústria Agroalimentar, Têxtil e Construção Civil - empresas com o maior número de empregados no estado, conforme dados da tabela abaixo.
Entre os segmentos apresentados acima, destacam-se as indústrias de Fabricação de Produtos Alimentícios, Confecção de Artigos do Vestuário e Acessórios, Fabricação de Produtos Têxteis, e Construção de Edifícios em número de trabalhadores. Com exceção do setor de alimentos, os demais devem sentir uma redução tanto na demanda quanto na oferta, a primeira como consequência de uma menor circulação de pessoas e a segunda, em função da paralisação momentânea de algumas empresas do setor. O impacto na redução dos empregos deve ser observado principalmente nos setores com maior incidência de estabelecimentos de micro e pequeno porte. Entretanto, o maior desafio está nas atividades econômicas integrantes do setor de serviços. Como mencionado anteriormente, esse setor é o que mais emprega no estado, sendo a Administração pública em geral, Comércio varejista - hipermercados e supermercados, Transporte rodoviário de carga, e Restaurantes e outros estabelecimentos de serviços de alimentação e bebidas os segmentos que lideram o volume de empregos no estado, conforme se observa na tabela a seguir.
Vale ressaltar, que está em vigor desde a última quarta-feira (18/03), a medida imposta pelo governo estadual devido a situação de emergência decretada, com restrições à circulação de pessoas e às atividades econômicas para evitar a propagação da COVID-19. Dentre essas atividades tidas como necessárias, encontram-se o Comércio varejista de mercadorias em geral - hipermercados e supermercados, e as Atividades de atendimento hospitalar, que mantém suas atividades normais e ampliado o número de funcionários para atender toda a demanda. Entre os setores apresentados, cabe o desafio de se adaptar às condições presentes, investindo por exemplo em entregas em domicílio, como é o caso principalmente do segmento de Restaurantes e outros estabelecimentos de serviços de alimentação e bebidas. O mercado de trabalho é um dos primeiros a sentir o efeito do isolamento preventivo à disseminação do Covid-19. No Estados Unidos, por exemplo, foram realizadas 3,28 milhões de solicitações do benefício de seguro-desemprego na semana encerrada em 21 de março, número muito acima da média semanal. Para fins de comparação, apenas duas semanas antes foram solicitadas 211 mil benefícios. O mesmo vem ocorrendo no Canadá, que registrou 500 mil solicitações do seguro-desemprego na última semana. Esse cenário de incertezas em relação à retomada na atividade econômica faz com que as empresas se antecipem à crise realizando demissões e corte de custos, procurando reequilibrar suas situações financeiras. Vale destacar, entretanto, que a dinâmica do mercado de trabalho na economia norte-americana é bem distinta do cenário brasileiro - dado a facilidade de contratar e demitir, além dos custos de transação serem inferiores aos observados aqui.