Cenário de incerteza permeia maior contração monetária no mundo
Na primeira semana de maio, o Comitê de Política Monetária (Copom¹) do Banco Central elevou a taxa básica de juros do mercado brasileiro (Selic) para 12,75% ao ano, o décimo aumento consecutivo. Para a próxima reunião, que ocorrerá em meados de junho, o Comitê sinaliza a continuação do ciclo de aperto monetário², mas com ajustes de menor magnitude.
A percepção do Comitê é de que o cenário externo, deteriorado desde o advento da pandemia, vem trazendo incertezas adicionais com o conflito entre Rússia e Ucrânia em curso desde o final de fevereiro, ainda sem previsão de desfecho, além da desaceleração da economia da China devido à política rígida de “Covid Zero”. Soma-se a isso a proibição à exportação de diversos alimentos em vários países, como a Índia, Argentina, Indonésia e Egito. Na visão do Comitê, esses desenvolvimentos podem trazer consequências de longo prazo, se traduzindo em pressões de preços mais duradouras sobre a produção global de bens e serviços.
¹A cada 45 dias, o Copom se reúne durante dois dias para definir os rumos da política monetária em prol do cumprimento da meta de inflação, considerando variáveis de expectativas de inflação, balanço de riscos e nível de atividade econômica.
²Significa uma política monetária contracionista, a manutenção da elevação da taxa de juros em prol do controle da inflação.
O choque de oferta sentido após os primeiros meses da pandemia gerou distorções sem precedentes nas cadeias globais de produção. Essas distorções estão sendo potencializadas: i) pelo conflito no Leste Europeu – a Rússia, grande exportadora mundial de várias commodities, vem enfrentando várias sanções econômicas e bloqueios nas exportações de vários produtos; ii) pela paralisação da economia chinesa, ocasionando uma crise na oferta dos portos chineses, o que fez dobrar o congestionamento de navios esperando para carregar/descarregar no mês de abril, em relação ao mesmo mês de 2021.
Consequência disso se traduz na maior duração do processo de normalização do suprimento de insumos industriais e numa pressão inflacionária disseminada entre as economias globais, combatida via choque de juros pelos órgãos monetários de cada país. Não somente o Brasil, mas sim grande parte das economias globais vêm sofrendo esses efeitos. Os Estados Unidos, por exemplo, elevou pela segunda vez no ano sua taxa de juros, sendo que desde 2018 mantinha a taxa de juros zerada.
A formação desse cenário de incerteza global e inflação de custos levou o Banco Central brasileiro a assumir uma postura mais dura no combate da inflação, mesmo que afetando o ritmo da atividade econômica.
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