Apesar de ter avançado cinco posições no Índice Global de Inovação (IGI) na comparação com 2020, o Brasil ficou com a 57ª colocação na lista de 132 países avaliados pelo ranking em 2021. O resultado está aquém do desempenho obtido em 2011, quando o país conquistou a 47ª posição, o melhor da série histórica.
Na avaliação da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que é parceira por meio da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI) na produção e divulgação do IGI desde 2017, a performance brasileira é incompatível com o fato de o país ser a 12ª maior economia do planeta, em 2020, e com o fato de ter um setor empresarial sofisticado.
De acordo com a CNI, três dos fatores que levaram o Brasil a uma melhor colocação em relação a 2020 foram a retração do PIB – que dá uma falsa percepção de avanço em razão do uso dessa medida relativa em alguns indicadores –, a inserção de novos indicadores no ranking e a boa atuação empresarial, refletida no desempenho em indicadores como Produtos de alta tecnologia e Valores recebidos por uso de propriedade intelectual. O uso de dados de outros anos e o plano de combate ao backlog de pedidos de patentes também podem ter contribuído para o ganho de colocações, avaliou a CNI.
Fonte: Índice Global de Inovação (IGI) 2021 e CNI
O presidente do Portulans Institute e co-editor do IGI, Soumitra Dutta, destacou nesta terça-feira, 21, durante a apresentação de lançamento do IGI no Brasil, entraves ao avanço do país no ranking de inovação. De acordo com ele, o país continua com a melhor desempenho em insumos de inovação do que em resultados de inovação, ocupando o 56º lugar (59º em 2020) e 59º (64º em 2020), respectivamente, o que indica que, apesar dos investimentos, o país não está se beneficiando completamente dos resultados com lançamento de novos produtos derivados de inovações.
Dutta destacou ainda que o Brasil tem se mantido constantemente na faixa dos 60 países do mundo no ranking de inovação. Em contraste, ele cita o exemplo da Índia, que saltou da faixa de 80ª colocação para a 40ª em um período de seis anos.
O co-editor do IGI afirmou que o Brasil tem um bom desempenho em nível de sofisticação dos negócios. Segundo Dutta, isso se reflete no fato de as empresas liderarem movimentos de discussão e investimento em inovação no país. O pilar de Capital humano e pesquisa também ficou entre os destaques positivos do país. “Os talentos brasileiros são bem conhecidos internacionalmente e em casa. E o Brasil igualmente tem boas universidades”, afirmou. Na outra ponta, os pilares de Instituições e Sofisticação de Mercado tiveram os desempenhos mais baixos.
O Brasil também detém o único cluster de ciência e tecnologia na América Latina listado entre os top 100, com São Paulo listada na 66ª posição.
Desafios para o crescimento
Embora o percentual de investimento em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) financiado pelo governo brasileiro esteja próximo a 50%, isso representa apenas 0,63% do PIB do Brasil, o que é praticamente a metade do investido por outros países desenvolvidos. Soumitra Dutta afirma que é fundamental que o governo brasileiro avance nos investimentos em tecnologia e inovação para que o país se desenvolva.
Com relação à mão de obra, o pesquisador reforçou o fato de que no Brasil apenas 15% dos formandos no Ensino Superior optam por carreiras do setor STEM (Fonte: OECD). Para ele, mudanças na política de incentivo à educação no país, especialmente voltadas às carreiras STEM, podem impulsionar o crescimento de P&D.
Ele destacou ainda a importância de promover um ambiente estável e capaz de atrair investimentos estrangeiro, com uma redução da complexidade regulatória e mais amigável à abertura de novos negócios. O desafio de ampliar os investimentos em infraestrutura e melhorar a logística também foram destacados na apresentação.
Fonte: Índice Global de Inovação (IGI) 2021 e CNI
O IGI
O Índice Global de Inovação é formado pela média de cinco pilares (Instituições, Capital humano e pesquisa, Infraestrutura, Sofisticação de mercado e Sofisticação empresarial), do subíndice Insumos de inovação e dos dois pilares (Produtos de conhecimento e tecnologia, e Produtos criativos) e do subíndice Produtos de inovação, distribuídos em 81 indicadores.
Os maiores avanços do Brasil em relação aos dados de 2020 se deram nos indicadores de Crescimento da produtividade no trabalho (58 posições) e de Gastos totais com software (46 posições). Conforme análise da CNI, como o primeiro é calculado considerando a média dos três últimos anos em relação ao PIB, sendo 2020 o último ano, a explicação plausível é que, apesar da redução de empregados, o PIB foi reduzido drasticamente, dando a falsa impressão de maior produtividade. O segundo, que tem o ano passado como referência, se explica pelos investimentos em software que aumentaram durante a pandemia e sua relação com o percentual do PIB, que caiu.
O ranking foi divulgado na segunda-feira, 20, pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI - WIPO, na sigla em inglês), em parceria com o Instituto Portulans, a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a Confederação da Indústria Indiana (CII), a Ecopetro e a Assembleia de Exportadores Turcos (TIM), contando com o apoio do Conselho Consultivo do IGI e de sua Rede Acadêmica. A CNI, por meio da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), é parceira na produção e divulgação do IGI desde 2017. A classificação começou a ser publicada anualmente em 2007.