Descarbonização, inclusão, diversidade, gestão de resíduos, cadeia de suprimentos, diálogo com as partes interessadas, transparência. Esses conceitos são familiares a você? Pois é a partir dessas e outras temáticas que a agenda ESG (Environmental, Social, and Governance ou Ambiental, Social e Governança, em português) tem se tornado cada vez mais importante e relevante no cenário global, especialmente no setor empresarial e industrial.
Os pilares ESG abrangem práticas ambientais, sociais e de governança, promovendo uma gestão sustentável e equilibrada das empresas. Vamos conhecer cada um deles?
Ambiental: Compreende a conservação dos recursos naturais e a minimização dos impactos ambientais das operações. Exemplos: evitar o esgotamento de recursos, reduzir resíduos e adotar fontes de energia renovável.
Social: Ter ações de responsabilidade social significa trabalhar com foco no apoio à comunidade local, oportunizar acesso à educação e saúde e promover a cultura de inclusão e diversidade.
Governança: Para atingir o objetivo de ter sucesso no longo prazo, é preciso investir em uma cultura organizacional sólida, transparente e ética. Assim, na qual as decisões sejam tomadas com base em valores compartilhados e responsabilidade corporativa.
Essa jornada de transformação, portanto, envolve trabalhar pela construção de um mundo mais inclusivo, ético e ambientalmente sustentável. Na indústria, setor que gera muitos empregos e possui participação direta no desenvolvimento das cidades, as pautas relacionadas ao ESG e à sustentabilidade também vêm ganhando espaço, diretamente conectadas ao conceito de competitividade. Nesse sentido, podemos dizer que ESG faz parte do guarda-chuva da sustentabilidade já que, para que uma empresa seja sustentável e competitiva, é preciso investir em práticas de ESG.
O que é sustentabilidade industrial?
A sustentabilidade, como grande conceito, visa a atender às necessidades básicas da sociedade, nos setores da saúde, educação, alimentação e moradia, entre outros. Para isso, a Organização das Nações Unidas definiu 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, para que os países consigam alcançar um desenvolvimento atrelado à sustentabilidade.
Por consequência, a sustentabilidade industrial é a responsabilidade e a busca constante das indústrias por práticas que gerem valor para as gerações atuais, sem comprometer o futuro. Esse seria o contexto macroambiental da questão e as ações ESG seriam o contexto microambiental. A adoção de práticas de ESG no setor industrial reflete a crescente demanda por transparência e responsabilidade corporativa por parte de investidores, consumidores e reguladores. Assim, empresas que incorporam práticas de ESG tendem a melhorar sua reputação, mitigar riscos e aumentar a eficiência operacional, resultando em uma vantagem competitiva a longo prazo.
O tema também é destaque na base de artigos do MIT, a DSpace@MIT. Por lá constam mais de 32 mil artigos com o grande tema “Sustentabilidade”. Relacionando com a indústria, ao buscar o termo “Sustentabilidade industrial”, temos mais de 21 mil achados. Um deles tem como título “The Drivers of ESG Index Outperformance: A Transatlantic Analysis of US and European Markets” e mostra que durante a pandemia de Covid-19 (2020), os fundos de ESG registraram entradas constantes, demonstrando retornos melhores que a média.
Qual é a conexão com a competitividade industrial?
Hoje, a empresa que quer ter um diferencial competitivo precisa adotar um modelo de negócio sustentável. Dentro dessa lógica, escolher práticas sustentáveis traz diversas vantagens, como o fortalecimento da marca entre clientes e colaboradores, a redução de custos de produção e o aumento dos lucros. É a partir disso que esse novo padrão de produção industrial atrai novos consumidores, investidores e profissionais que compartilham dos mesmos ideais.
A adoção de um conjunto de práticas sustentáveis pode trazer uma série de impactos positivos para as empresas. Conheça alguns exemplos de benefícios competitivos:
Diferenciação de mercado: destaque em um mercado saturado e atração de clientes que valorizam práticas sustentáveis.
Fidelidade do cliente: ao compartilhar seus valores pessoais com o negócio, os consumidores tendem a ser mais leais.
Inovação: as empresas podem criar produtos e serviços inovadores a partir de soluções sustentáveis.
Preparação para regulamentações: as empresas que investem em práticas sustentáveis estão mais preparadas para se adaptar às mudanças e evitar penalidades.
Resiliência: Crises e desastres tendem a ter menor impacto por conta da abordagem responsável e equilibrada.
Projeto ESG na Indústria
Nesse contexto, a Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC) desenvolve iniciativas que promovem um ambiente favorável à competitividade da indústria catarinense. Falando em responsabilidade social, a FIESC busca criar uma cultura junto à indústria e à sociedade, promovendo ações socioambientais que contribuam para o desenvolvimento econômico e social do estado.
“A Federação identificou a necessidade de ter uma visão consolidada do panorama ESG, considerando diferentes setores da economia. Isso resultou no desenvolvimento do projeto “ESG na Indústria”, um estudo que identifica as boas práticas e a performance ESG da indústria catarinense para ajudar o setor industrial nas tomadas de decisões”, conta Sandro Volpato, gerente de responsabilidade social da FIESC.
O projeto tem como objetivo principal desenvolver um estudo sobre os fatores críticos de sucesso e benefícios decorrentes da implementação do ESG nas indústrias catarinenses, identificar as indústrias de Santa Catarina que divulgam práticas ESG, avaliar quais indicadores são mais divulgados pelas empresas, considerando características como setor, localidade e receita e ranquear as indústrias com destaque nas práticas ESG.
Conforme Sandro, no momento, estão sendo coletados e analisados dados estruturados e não estruturados das empresas presentes na bolsa de valores e de indústrias catarinenses de médio e grande porte. “Estamos trabalhando com técnicas de processamento de linguagem natural e ferramentas de inteligência artificial generativa. A intenção é compreender melhor a divulgação das práticas ESG das indústrias catarinenses e realizar um benchmarking com as empresas listadas na bolsa de valores”, pontua.
ESG nos Institutos SENAI de Inovação e Tecnologia
A Rede de Institutos SENAI de Inovação e Tecnologia também vem avançando em ações da agenda ESG. Conforme Pedro Paulo Montrose Marques, gerente de inovação e tecnologia do SENAI SC, “considerando a temática do moderno Instituto SENAI de Tecnologia em Mobilidade Elétrica e Energias Renováveis, se fez relevante instalar painéis solares em sua planta, gerando impactos econômicos, ambientais e sociais”.
Marques destaca que a instalação dos painéis solares traz uma série de benefícios: “Redução em 12% do valor pago em energia elétrica, menos emissões de gases de efeito estufa, conservação dos recursos naturais, promoção da sustentabilidade e conscientização são alguns dos retornos positivos que podemos destacar nesta ação”, aponta.
A Rede também investiu na estruturação de um Escritório de Projetos de Inovação (Project Management Office - PMO) com foco nas conformidades em gestão de risco, compliance e propriedade intelectual. Para Marques, “isso se reflete em uma entrega mais rápida e eficiente. A transparência e o envolvimento contínuo ao longo do projeto garantem que as necessidades do cliente sejam atendidas de forma mais precisa. Além disso, a flexibilidade para se adaptar a mudanças e a gestão eficaz de riscos e compliance asseguram a entrega de resultados que agregam valor às empresas”.
Focando no atendimento aos clientes, a Rede atende quatro grandes empresas de Santa Catarina nas temáticas ESG. Serviços como a elaboração do Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), que fornece um diagnóstico das emissões sob responsabilidade da organização inventariante; e a integração ao programa ESG, como o objetivo de implantar boas práticas de mercado ESG, são oferecidos ao mercado.
Confira alguns cases de sucesso:
Projeto Bóia Bravo: Representa um primeiro passo na aposta da Petrobras de passar a produzir energia renovável na costa brasileira. Uma bóia é equipada com um sistema de sensoriamento que capta os dados meteorológicos e oceanográficos e um algoritmo desenvolvido para o computador da bóia permite corrigir as informações em função das variações de posição provocadas pelas ondulações do mar.
Projeto Conversão Elétrica: Possibilita a oferta de uma solução acessível para que seja possível acelerar o processo de adoção de energia elétrica renovável em favor da mobilidade. Dentre as aplicações possíveis, cabe mencionar a conversão de veículos elétricos para utilização na cadeia logística.
Projeto Manufatura Digital 2 (MD2): As tecnologias de processamento a laser permitem a fabricação de peças sob demanda, possibilitando a redução de estoque físico e aumentando a disponibilidade de componentes críticos. O processo L-DED também se destaca pela possibilidade de reparar componentes danificados, reduzindo o impacto ambiental e os custos associados à aquisição, logística e estoque de peças de reposição.
Depois dessa jornada pelos conceitos e dos exemplos de sucesso, você está convencido de que o ESG veio para ficar? A transformação da indústria está diretamente relacionada à sustentabilidade e à competitividade. Vamos juntos?