Pesquisas e dados atuais sobre o universo da inteligência artificial (IA) não faltam. O assunto é pauta em escritórios dos mais diferentes segmentos e até mesmo em mesas de bar. É a bola da vez: IA. Só que esse não é um conceito novo, por mais que pareça. É que a ideia de utilizar recursos tecnológicos com capacidade de simular a inteligência humana está sendo desenvolvida há pelo menos 80 anos. Isso mesmo que você leu: 80 anos.
Quem começou a desenvolver essa tecnologia foi Alan Turing, o pai da computação. Em 1936 ele criou um dispositivo: a Máquina de Turing. Por meio de comandos, o equipamento conseguia realizar processos e, para a época, foi um avanço significativo. Porém foi por volta de 1955 que o conceito de inteligência artificial começou a ser utilizado.
Os responsáveis por isso foram os cientistas JC Shaw e Herbert Simon, que criaram o primeiro projeto de software com IA, chamado Logic Theorist. Ele foi o primeiro programa de computador capaz de provar teoremas matemáticos de forma automatizada. Na prática, o Logic Theorist utilizava técnicas de lógica formal e regras de inferência para demonstrar teoremas do cálculo proposicional.
Outros marcos importantes nessa trajetória tecnológica são a criação do chatbot, em 1966; a tecnologia de voz nos computadores, em 1986; o início do desenvolvimento do Google, na década de 90; e todos os avanços que acompanhamos em computadores e celulares a partir dos anos 2000.
Hoje, o conceito de pensar, agir e aprender de um jeito muito parecido com o ser humano faz parte das nossas vidas. Redes sociais, bancos, hospitais e laboratórios são alguns dos lugares nos quais a IA já tem o seu espaço. Na nossa rotina também, claro, com a ajuda de assistentes virtuais como a Siri, do iPhone, e a Alexa, do Echo Dot.
Outro exemplo prático, que sacudiu os mercados de todos os segmentos, foi a chegada do Chat GPT, em 2022, colocando em cena a IA generativa. Talvez esse tenha sido o marco de um novo tipo de relacionamento entre homens e máquinas, antes reservado apenas aos especialistas e profissionais do ramo.
Mas como a IA está impactando a forma como vivemos?
Este novo momento, que vivemos aqui e agora, está marcado pelos prompts. O termo "prompt" significa um comando capaz de nos colocar em trocas e diálogos contínuos com as máquinas. Ou seja, depois de utilizar a internet como um meio para se buscar respostas, estamos agora em uma era focada no refinamento das perguntas.
Conforme o Relatório Modo Prompt, do Grupo Consumoteca, “estamos na véspera de novos hábitos, acordos sociais e valores, todos forjados pela forma como uma nova fase tecnológica se entrelaça com nossas vidas cotidianas. Este é um momento em que o futuro da IA é definido menos pelo que a tecnologia pode fazer e mais pelo que escolhemos fazer com ela”.
E qual o tamanho deste mercado?
De acordo com um relatório da Bloomberg Intelligence, o valor do mercado de IA generativa deve chegar a US$ 1,3 trilhão até 2032, antes apenas US$ 40 bilhões em 2022. Já a receita da infraestrutura de IA generativa como serviço, que é usada para treinar grandes modelos de linguagem, deve chegar a US$ 247 bilhões até 2032.
"O mundo está pronto para ver uma explosão de crescimento no setor de IA generativa nos próximos 10 anos que promete mudar fundamentalmente a maneira como o setor de tecnologia opera", disse Mandeep Singh, autor do relatório e analista sênior de tecnologia da Bloomberg Intelligence, em comunicado à imprensa.
Já ouviu falar da STARA?
A combinação dos elementos Smart Technology (Tecnologia Inteligente), Artificial Intelligence (Inteligência Artificial), Robotics (Robótica) e Algorithms (Algoritmos) forma a sigla STARA. É um conceito mais amplo e completo, que engloba outros avanços tecnológicos - além da IA - e suas implicações na vida profissional e nas organizações de todos os segmentos. Ele já vem sendo desenvolvido e estudado há algum tempo, com registro do estudo “Smart Technology, Artificial Intelligence, Robotics, and Algorithms (STARA): Employees’ perceptions of our future workplace” publicado na Cambridge University Press ainda em 2017.
São diversos trabalhos sobre o tema, entre eles “The Fourth Industrial Revolution – Smart Technology, Artificial Intelligence, Robotics and Algorithms: Industrial Psychologists in Future Workplaces”, publicado em 2022, na Frontiers. O estudo diz que “na Quarta Revolução Industrial, prevê-se que a STARA (tecnologia inteligente, inteligência artificial, robótica e algoritmos) substitua um terço dos empregos que existem hoje. Quase o dobro das tarefas de trabalho atuais serão realizadas por robôs. Prevê-se que, até 2025, 85 milhões de empregos possam ser substituídos por uma mudança na divisão do trabalho entre humanos e máquinas, enquanto poderão surgir 97 milhões de novos papéis mais adaptados à nova divisão do trabalho entre humanos, máquinas e algoritmos”.
Na base de artigos do MIT, DSpace@MIT, constam mais de 14 mil artigos com o grande tema “Inteligência Artificial” no título. Relacionando IA com o termo indústria, temos mais de oito mil achados. O volume mostra a força de pesquisa investida na área e correlacionada também com todos os subtemas da STARA.
Nesse sentido, existe um potencial de desenvolvimento industrial em curso, tanto no âmbito técnico quanto de mão-de-obra. Pensando no contexto da indústria, a projeção é de um cenário de trabalho cada vez mais automatizado; criação de novas políticas e leis; e valorização das percepções de colaboradores, consumidores e cidadãos. Especialistas dizem que esse conjunto de fatores formará os caminhos a seguir.
Falando em indústria…
Os desafios para a indústria 4.0 não param de crescer. Conforme Giovanni Holanda, pesquisador líder e cientista de dados da Fundação para Inovações Tecnológicas (FITec), “os inúmeros recursos da Indústria 4.0 permitem elevar as atividades fabris a um novo patamar de qualidade e produtividade. A automação de processos, a utilização de dispositivos conectados em rede e as novas abordagens de tratamento e análise de dados levam a uma manufatura inteligente, atuando do chão de fábrica à camada de negócios. Tal cenário representa uma transformação digital para as indústrias, alavancado pela adoção de várias camadas de tecnologias de base, como internet das coisas (IoT), computação em nuvem, sistemas ciberfísicos, big data e IA.”
Yang Hua, presidente da Huawei Cloud no Brasil, também aponta para um futuro industrial cada vez mais tecnológico: “A IA aplicada à indústria deve ser um divisor de águas entre um ambiente de negócios em que a riqueza estava escondida em meio à complexidade de dados inacessíveis e um mercado que consegue tomar decisões baseadas em conhecimento gerado pela máquina”, diz.
E já existem exemplos de aplicações de IA em diferentes setores industriais, como na indústria de alimentos e bebidas. Um deles é da M. Dias Branco, uma das maiores indústrias do setor de produção de alimentos do país. A empresa passou por um processo de transformação digital e, depois de escolher o parceiro que ajudaria a trilhar esse caminho, selecionou pontos para colocar em prática alguns pilotos, de forma que as soluções tecnológicas mostrassem, de fato, que poderiam agregar valor, reduzir custos e gerar resultados.
Conforme case divulgado no e-book “Tendências em Inteligência Artificial na indústria de alimentos e bebidas”, do site especializado Food Connection, “no caso da M. Dias Branco, a inteligência artificial e a análise de dados tem atuado mais intensamente nas atividades de manutenção preditiva, principalmente dos pontos mais críticos da operação. Para criar um sistema eficiente de domínio das informações e de decisões orientadas por esses dados, a empresa colocou em prática uma medida ousada”. A indústria optou por fazer o piloto na planta de Fortaleza, fornecedora de gordura para as 17 fábricas. “Sabendo que, se desse certo lá, seria possível replicar em outros lugares”, afirma Yunare Marinho Targino, gerente
de Processos Industriais da M. Dias Branco.
Ou seja
Depois de toda discussão realizada, temos certeza de que a realidade tecnológica não irá retroceder. Para alguns, que bom. Para outros tantos, não é bem assim. Fato é que a preparação para esse contexto começa por uma conscientização de que as tecnologias fazem parte da vida desde sempre. Nos últimos tempos com uma aceleração maior e trazendo tanto mais desafios quanto mais oportunidades.
Por isso, o olhar atento dos negócios para esses temas é que vai construir o futuro da indústria, do trabalho e, em última análise, da humanidade. Pelo menos é o que as pesquisas e os dados têm nos mostrado.